Por Mayara Brum Lupi Magalhães
Após a inserção da tecnologia no campo
da saúde, o panorama instrumental passou a ser sinônimo de qualidade. Dessa
forma, a assistência hospitalar passou a ser valorizada e privilegiada em
oposição à atenção básica e ambulatorial por concentrar uma gama de técnicas e
aparelhos e modernas.
No entanto, os altos custos gerados
pelos procedimentos e ânsia de obtenção de mais lucros por parte das empresas,
fizeram com que o balanço entre esses dois paradigmas fossem repensados. Assim,
o cuidado integral do paciente promovido pela atenção primária (AP) passou a
ser valorizado, por permitir o uso racional dos recursos e maior efetividade. Assim,
após a consolidação do SUS (Sistema Único de Saúde), instituiu-se um modelo de
assistência em rede, no qual essa passou a ser a porta de entrada para todos os
outros componentes do serviço de saúde.
No entanto, apesar dessa mudança de
paradigma, compreende-se que o serviço centrado na resolução de queixas e no
profissional médico ainda não foi superado. Assim, pacientes demonstram-se
insatisfeitos com o cuidado e abordagem prestada, principalmente pelos médicos,
já que se questiona o tempo reduzido das consultas, a falta de atenção e a
ausência ou a realização de exames físicos ineficientes durante a consulta.
Além disso, ainda é documentado um
predomínio de prescrições de exames clínicos de alta complexidade, como
tomografias e ressonância magnética, em relação a exames mais simples que
juntamente com uma anamnese adequada poderiam trazer uma mesma resolutividade
para o paciente e redução dos custos.
Dessa forma, podemos perceber, em
parte, que a maioria dos médicos ainda não se preocupa ou não se conscientizou
da importância de construir uma relação médico-paciente sólida, mas sim em
apenas enquadrar o paciente em um diagnóstico; postura que dificulta o processo
terapêutico, tendo em vista que compromete a adesão dos pacientes ao tratamento
e o acompanhamento longitudinal. Assim, um
dos objetivos da atenção primária em fomentar a demanda programada, ao
contrário da espontânea, não é atingido. Consequentemente, as políticas
preventivas, que procuram evitar o desenvolvimento e a agudização das doenças
crônicas e da instauração de doenças agudas, se tornam ineficientes.
Assim, para sustentar essa mudança no
paradigma, é necessário que a atenção seja colaborativa, ou seja, resultado da
troca de experiências entre profissionais e pacientes, de forma que esse não
seja um agente passivo. Também se mostra imprescindível a promoção de campanhas
de educação sanitária, de forma a permitir que os usuários detenham conhecimento
necessário para exercer o autocuidado.
Por fim, é importante a instituição de
uma atenção interdisciplinar ao invés de multidisplinar, tendo em vista que
permite a otimização do serviço e um aumento da qualidade da assistência, já que
esta é distribuída de acordo com as competências de cada profissional da
equipe.