domingo, 29 de outubro de 2017

A ATUAÇÃO MÉDICA E O PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE

Por Paula Martins Ribeiro

Ao observarmos o cotidiano das consultas médicas e o ambiente profissional da medicina nos deparamos, muitas vezes, com o seguinte questionamento: “Os médicos devem atuar sempre de uma maneira pré-estabelecida, imposta, ou há uma flexibilidade na composição do processo de trabalho médico?”
Para responder tal questão é necessário nos fundamentarmos e nos basearmos em questões referentes à estrutura dos sistemas de saúde brasileiros. É notável que, desde que a era tecnológica alcançou a medicina, houve uma complexa mudança nos setores que compõem o trabalho médico. Por consequência, o processo de trabalho também sofreu mudanças relativas a inserção de novas formas diagnósticas e novos recursos disponíveis (ou não) à utilização. No entanto, atrelado a essa mudança, observa-se que os hábitos e comportamentos individuais e coletivos dos pacientes também se modificaram, alterando não somente os meios de trabalho, mas também o objeto principal e mais complexo de trabalho médico.
Nesse sentido, ao considerarmos que o trabalho médico é uma prestação de serviços, os seres agentes nesse processo (médicos) devem se adaptar a estas novas situações que redirecionam a atenção profissional não somente para a busca incessante por diagnósticos em saúde, mas para um olhar diferenciado aos pacientes, os quais devem ser analisados como uma rede interligada a inúmeros fatores atuais, tais como sua relação com a sociedade, sua individualidade possibilitada pela intensificação das tecnologias e seus hábitos de vida relacionados ao sedentarismo e à transição epidemiológica atual, considerando-se o “boom” de doenças crônico-degenerativas e psiquiátricas da atualidade.
É evidente que, para respondermos a indagação proposta no início, devemos perceber que em todo o processo de produção do trabalho médico, há um objetivo a ser cumprido, seja ele relacionado aos objetivos pessoais do profissional, seja ele relacionado a um anseio do paciente ou até mesmo um objetivo político social relacionado à questões financeiras e forças proletárias. Podemos observar, ao se verificar as práticas médicas do dia-a-dia, que cada vez está mais evidente que as influências pessoais do profissional e, principalmente, os objetivos a serem cumpridos dentro das instituições empregatícias, com a economia máxima de recursos, regem a atuação do médico na maior parte do tempo. Isso se deve à uma estrutura pré-estabelecida que exige metas profissionais, cobranças financeiras pessoais que devem ser alcançadas mensalmente, as quais induzem o foco de muitos atendimentos para o problema momentâneo do indivíduo. Vemos que, nem mesmo nas ESF’s em que a saúde coletiva deveria ser privilegiada em detrimento de outras modalidades em saúde isso ocorre. Tal fato demonstra que o manejo atual da saúde no país tem se revelado insuficiente para cumprir com as propostas de inserção da saúde em redes com diferentes níveis e complexidades.
Dessa forma, podemos considerar que o trabalho médico atual se encontra, em sua maior parte, “engessado” sob uma visão política e financeira da saúde. Tal fator é desestimulante para os profissionais, que se sentem constantemente pressionados em cumprir metas de produtividade. Além disso, a falta de recursos materiais e profissionais, faz com que não haja tempo e material hábil para uma integração do cuidado, fazendo com que os profissionais sejam obrigados a se adequar a situação imposta pelos atuais sistemas de saúde brasileiros. Portanto, mesmo que não exista um padrão definido nacionalmente e formalmente, há um “padrão nacional” de desestruturação dos serviços de saúde atuais que induz uma atuação médica semelhantemente insatisfatória quando se observa as propostas da teoria e o que ocorre de fato na prática.


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