Por Paula Martins Ribeiro
Ao
observarmos o cotidiano das consultas médicas e o ambiente profissional da
medicina nos deparamos, muitas vezes, com o seguinte questionamento: “Os
médicos devem atuar sempre de uma maneira pré-estabelecida, imposta, ou há uma
flexibilidade na composição do processo de trabalho médico?”
Para
responder tal questão é necessário nos fundamentarmos e nos basearmos em
questões referentes à estrutura dos sistemas de saúde brasileiros. É notável
que, desde que a era tecnológica alcançou a medicina, houve uma complexa
mudança nos setores que compõem o trabalho médico. Por consequência, o processo
de trabalho também sofreu mudanças relativas a inserção de novas formas
diagnósticas e novos recursos disponíveis (ou não) à utilização. No entanto,
atrelado a essa mudança, observa-se que os hábitos e comportamentos individuais
e coletivos dos pacientes também se modificaram, alterando não somente os meios
de trabalho, mas também o objeto principal e mais complexo de trabalho médico.
Nesse
sentido, ao considerarmos que o trabalho médico é uma prestação de serviços, os
seres agentes nesse processo (médicos) devem se adaptar a estas novas situações
que redirecionam a atenção profissional não somente para a busca incessante por
diagnósticos em saúde, mas para um olhar diferenciado aos pacientes, os quais
devem ser analisados como uma rede interligada a inúmeros fatores atuais, tais
como sua relação com a sociedade, sua individualidade possibilitada pela
intensificação das tecnologias e seus hábitos de vida relacionados ao
sedentarismo e à transição epidemiológica atual, considerando-se o “boom” de
doenças crônico-degenerativas e psiquiátricas da atualidade.
É
evidente que, para respondermos a indagação proposta no início, devemos
perceber que em todo o processo de produção do trabalho médico, há um objetivo
a ser cumprido, seja ele relacionado aos objetivos pessoais do profissional,
seja ele relacionado a um anseio do paciente ou até mesmo um objetivo político
social relacionado à questões financeiras e forças proletárias. Podemos
observar, ao se verificar as práticas médicas do dia-a-dia, que cada vez está
mais evidente que as influências pessoais do profissional e, principalmente, os
objetivos a serem cumpridos dentro das instituições empregatícias, com a
economia máxima de recursos, regem a atuação do médico na maior parte do tempo.
Isso se deve à uma estrutura pré-estabelecida que exige metas profissionais,
cobranças financeiras pessoais que devem ser alcançadas mensalmente, as quais
induzem o foco de muitos atendimentos para o problema momentâneo do indivíduo.
Vemos que, nem mesmo nas ESF’s em que a saúde coletiva deveria ser privilegiada
em detrimento de outras modalidades em saúde isso ocorre. Tal fato demonstra
que o manejo atual da saúde no país tem se revelado insuficiente para cumprir
com as propostas de inserção da saúde em redes com diferentes níveis e
complexidades.
Dessa
forma, podemos considerar que o trabalho médico atual se encontra, em sua maior
parte, “engessado” sob uma visão política e financeira da saúde. Tal fator é
desestimulante para os profissionais, que se sentem constantemente pressionados
em cumprir metas de produtividade. Além disso, a falta de recursos materiais e
profissionais, faz com que não haja tempo e material hábil para uma integração
do cuidado, fazendo com que os profissionais sejam obrigados a se adequar a
situação imposta pelos atuais sistemas de saúde brasileiros. Portanto, mesmo
que não exista um padrão definido nacionalmente e formalmente, há um “padrão
nacional” de desestruturação dos serviços de saúde atuais que induz uma atuação
médica semelhantemente insatisfatória quando se observa as propostas da teoria
e o que ocorre de fato na prática.
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